A experiência do câncer é muito dolorosa para os pacientes e suas famílias. Pensamentos suicidas durante a trajetória do diagnóstico e tratamento são comuns, embora relativamente poucos pacientes cometam ou tentem o ato. Acredita-se que o risco de suicídio em pacientes com câncer é duas vezes maior que a da população geral, e certos tipos de neoplasias, como de cabeça e pescoço, pulmão e pâncreas, têm taxas significativamente mais altas. Segundo estudos, há maior probabilidade de suicídio dentro do primeiro ano do diagnóstico. A identificação de pacientes suscetíveis, pelo oncologista, é a chave para a prevenção, como também para o tratamento do sofrimento físico, espiritual e emocional.

História psiquiátrica prévia, estados afetivos (raiva, hostilidade, depressão, vergonha, culpa, desesperança, desmoralização) dor, idade avançada e isolamento social são fatores que conferem maior suicidalidade. Estes fatores associados a uma doença crônica (câncer) podem interagir aumentando o risco.

Marcado ficou-me esta tragédia:
Paciente de 75 anos, procurou-me para tratar um tumor de grandes dimensões no retroperitônio (espaço anatômico localizado atrás da cavidade abdominal, onde se localiza estruturas como pâncreas, rins e grandes vasos abdominais). Outro profissional havia tentado retirar a lesão sem sucesso. Felizmente consegui remover a mesma. Entretanto, alguns meses após à cirurgia, ocorreu recidiva tumoral, e consequentemente realizei outro procedimento. Mesmo após o êxito das cirurgias, o paciente e familiares procuraram-me diversas vezes no consultório. O paciente queixava-se de dor em várias partes do corpo, e os familiares relataram que o mesmo estava mais hostil, impaciente e desesperançoso. Afirmações sobre a existência do tumor, mesmo com exames de seguimento não evidenciando mais sinais de doença, eram corriqueiras. Conversei com familiares sobre a necessidade de procurar um psicólogo/psiquiatra pensando em quadro depressivo, no entanto não demorou para a tragédia acontecer. O paciente suicidou-se!
O relato serve para nos anteciparmos, a fim de evitarmos taxas aumentadas de suicídios em pacientes com câncer. O suicídio é uma solução permanente para um problema que não raras vezes é temporário, pois a cura do câncer pode ser obtida.